O Traje Académico
É importante salientar que o Traje não se utiliza de qualquer forma, uma vez que não é uma coisa qualquer, não é uma peça de roupa que se compra por puro capricho, o Traje é mais do que isso, não se veste, sente-se. A sua utilização requer regras, que variam consoante as Universidades e os distritos.
Tem origem nas velhas lobas eclesiásticas e foi sempre composto por capa e batina, o que vem confirmar a influência que a Igreja sempre teve no ensino. Apesar de atualmente se apresentar uniformizado, nem sempre foi como o conhecemos hoje. Os antigos estatutos da Universidade de Coimbra não ordenavam o uso de um uniforme académico. Contudo, proibiam o uso de certas cores e condicionavam o leque de escolhas em relação ao corte. Em 1645, D. João IV confirmou os estatutos que a Universidade dispunha, elaborados em 1598, conhecidos pelos Velhos ou pelos Oitavos e que vigoravam em pleno até 1772, altura em que ocorreu a reforma Pombalina.
No século XIX o Traje Académico sofre as maiores alterações. No início desse século, os atentados ao Traje eram tão exagerados que o próprio Reitor resolveu impor-se. Nos finais do século XIX, as modificações são ainda maiores. O Traje afasta-se cada vez mais das primitivas loba e baeta e aproxima-se a passos largos daquilo que conhecemos hoje como Traje Académico. A principal alteração terá sido a escolha definitiva da calça comprida.
Em meados do século XX, o Traje adquire já feições muito aproximadas às de agora. É com a publicação do primeiro Código da Praxe Académica, em 1957, que o Traje passa a ter a sua entidade uniformizada. Mais tarde, seria a vez do Porto criar o seu Código da Praxe Académica, apresentado em 1983 por José António Balau e Augusto Henrique Soromenho. Este documento continua a ser um projeto.
De Capa e Batina, não existem distinções entre pobres e ricos. A única forma de alguém se evidenciar é através do uso da inteligência, pois de traje não se podem usar enfeites para chamar a atenção. Todos são iguais, é essa a máxima utilizada.
Da simbologia do Traje já muito se tem dito, mas muitas divagações acerca dele correm sério risco de se encontrarem erradas. Dizem que o Traje Académico simbolizava a congregação das três principais classes sociais, sendo a Capa o símbolo da Nobreza, a Batina o do Clero e o Colete o do Povo. Por mais bela e romântica que esta explicação possa ser, não tem qualquer fundamento histórico: a Capa e Batina são as sucessoras da loba e baeta, sendo estas de origem eclesiástica.
O Traje para os Homens:
· Sapatos pretos lisos, sem fivelas nem adornos metálicos, com cordões em número ímpar;
· Meias pretas; calça preta lisa com ou sem porta; colete preto não de abas ou cerimónia;
· Batina que não seja de modelo eclesiástico; camisa branca e lisa, com colarinho de modelo comum, gomado ou não, e com ou sem punhos; gravata preta e lisa; capa preta, com ou sem cortes na parte inferior e com ou sem distintivos na parte interior; o colete e a Batina deverão ter um número de botões pregados correspondente ao número de casas; a Batina deve ter pregados, na parte média posterior, dois botões de tamanho maior e apresentar em cada uma das mangas de um a quatro botões, mas de modo a que o número destes seja o mesmo num e noutro punho.
· Na falta do colete, a batina deve apresentar-se abotoada; o bolso posterior da calça, tendo casa, tem de ter botão; o laço pode usar-se com o traje em ocasiões solenes; o uso de lenço visível no bolso superior esquerdo não é incompatível com o uso da Capa e Batina, desde que seja branco;
· O uso do gorro da praxe é facultativo, mas este não pode ter borla nem terminar em bico; É proibido o uso de botins ou botas altas.
O Traje para as Mulheres:
· Sapato preto, de modelo simples, com tacão pequeno; meia alta, preta;
· Fato saia e casaco, preto e de modelo simples; o casaco não pode ter golas de seda ou pele; a saia não pode ser rodada e deve usar-se pelo meio do joelho;
· Camisa branca; gravata preta lisa; capa preta .
· O uso do gorro da praxe é proibido às mulheres; é proibido o uso de maquilhagem; não havendo proibição formal acerca do uso de brincos, aconselha-se sejam discretos, clássicos e não sejam pendentes.
Para ambos:
a) Em tempos normais:
É proibido o uso de luvas, pulseiras, colares, anéis e outros adornos ou sinais externos de vaidade ou riqueza. É permitido, contudo, o uso de aliança de casamento ou de compromisso.
Só é permitido o uso de guarda-chuva se este for preto, liso, com cabo de madeira e possuir 11+1 varas.
Os pins não são proibidos, ou pelo menos não existe nenhuma proibição formal quanto ao seu uso, mas devem usar-se na lapela esquerda. De forma a evitar as inestéticas "vitrinas", aconselha-se fortemente o uso de um único pin: o da instituição ou o do curso, por exemplo.
Devem retirar-se todas as etiquetas do traje, com os dentes.
A Capa nunca se lava. Lavá-la é apagar e renunciar todas as recordações da vida de estudante, além disso, "dá azar", dizem os supersticiosos.
A Capa não se deve encontrar a uma distância superior a sete passos do seu proprietário.
A Capa pode usar-se dobrada sobre o ombro esquerdo com a gola para trás ou sobre os ombros, com um número de dobras na gola correspondente ao ano frequentado e com os distintivos virados para dentro.
Podem colocar-se emblemas e insígnias pessoais na Capa na parte interior esquerda, após a primeira Latada como Pastranos.
Estes devem ser cosidos manualmente com linha preta em ponto cruz e esta não deve passar para o lado exterior da capa. Não se espeta metal na Capa.
A soma dos emblemas da Capa tem de ser ímpar. Os distintivos da Capa não podem ser visíveis estando esta traçada ou sobre os ombros.
Podem fazer-se rasgões na capa, cada um simbolizando um momento importante da vida do estudante. Todos os rasgões devem ser feitos com os dentes. Coser os rasgões é facultativo, mas deve fazer-se com linha preta ou da cor do curso, em ponto cruz.
A Capa traça-se sempre sobre o ombro esquerdo. O uso do traje académico implica o respeito e cumprimento de certas regras.
Só em ocasiões muito especiais é que se colocam as capas estendidas no chão para que o homenageado possa passar por cima delas, esta é a maior homenagem académica que se pode fazer a alguém.
b) Em cerimónias especiais:
Deve usar-se a Batina abotoada e a Capa estendida ao longo do corpo, com as respetivas dobras.
c) Na missa:
Deve usar-se a Batina abotoada e a Capa estendida ao longo do corpo, sem dobras. Nunca se traça a Capa durante uma cerimónia religiosa.
d) Durante o luto:
Em caso de luto, a Batina deve apresentar as abas fechadas, encontrando-se a Capa caída pelos ombros, sem dobras.
e) No Fado e nas Serenatas:
Todos os estudantes presentes devem ter as capas traçadas, evitando que se veja o branco do colarinho e dos punhos. Nas serenatas nunca se batem palmas. Caloiro não traça a Capa, mas deve-a unir e apertar junto ao pescoço, segurando-a de modo a que não se veja o branco do colarinho.


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